No início do século XVI, na Irlanda, uma mulher dominava as ruas de Kilkenny, não com feitiçarias, mas com algo ainda mais perigoso para a época: Dinheiro e influência. Seu nome era Alice Kyteler, e ela não precisou de pactos demoníacos para se tornar a primeira pessoa na Irlanda a ser acusada de bruxaria. Bastou ter poder e quatro maridos misteriosamente mortos.
Alice nasceu por volta de 1263, filha de uma família bem sucedida (diferente das mulheres de sua época), Alice se destacou como uma figura ambiciosa e independente. Casou-se quatro vezes, e cada um de seus maridos lhe deixou heranças generosas.
Esse detalhe não passou despercebido. Logo após a morte de seu quarto marido, Sir John le Poer, os filhos dos falecidos se uniram para acusá-la de algo que seria mais provável: Feitiçaria. De acordo com eles, Alice havia envenenado os maridos para conseguir herdar suas suas fortunas, e mantinha um pacto com um demônio chamado Robin Artisson, que lhe garantiria riqueza em troca de sua alma.
Este caso chegou ao bispo Richard de Ledrede, um homem rigoroso que viu em Alice a chance de reforçar a autoridade da igreja. Algumas acusações envolviam: Sacrifícios de animais em rituais profanos, teria um demônio como cúmplice e amante, que apareceria para ela em forma de um gato preto, e que também realizava rituais noturnos em cruzamentos de estradas (local tradicionalmente associado à bruxaria). Com essas acusações, o bispo tentou prender Alice e condená-la por bruxaria.
Com contatos e diversos recursos, ela conseguiu fugir da Irlanda antes do julgamento ser concluído, e de acordo com a igreja, sua fuga era vista como uma prova de culpa, e se ela não poderia ser punida, outra pessoa seria.
Petronilla de Meath, sua serva, foi a escolhida, que confessou que Alice era de fato, uma bruxa. Porém, Petronilla foi queimada viva em praça pública em 3 de novembro de 1324, tornando-se a primeira vítima da caça às bruxas.
Alice desapareceu sem deixar rastros, tornando-se um mistério para a história. Nunca houve provas de que ela tenha feito pacto com o diabo, ou envenenado seus maridos, mas sua riqueza e independência foram motivos suficientes para condená-la. Afinal, uma mulher que não dependia de um homem para sobreviver era, por si só, um perigo.
Eita, o diabo tinha até nome! rs. Eu me pergunto: se todas as mulheres acusadas de bruxaria fosem bruxas mesmo ia acontecer uma vingança das boas com esse povo que inventa qualquer lorota quando quer jogar a culpa em alguém não é? Ainda mais numa mulher…
Ficou ótimo o texto. No decorrer das aulas vou ensinar todos a dar uma incrementada no visual, incluindo subtítulos, imagens, etc. Nesse caso é uma história muito legal, que merece ser contada a fundo.
Encontrei a imagem do quadro em melhor resolução, na aula a gente sobe ela, agora tá muito grande, rs. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/Examination_of_a_Witch_-_Tompkins_Matteson.jpg
Oi Geovana, tá ótimo. Agora pra tirar 10: seria legal colocar um intertítulo, dividindo o texto todo ao meio. E algumas imagens, se possível, dessa galera aí… Sir John le Poer, Richard de Ledrede (achei https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcScyLSjNd-9b66tBFpTX3yZz23XhWIVbLkOCFqWVoaMiP7pA3M7t-G4qooqu8_McZuIco2jl5XLHrvdyGy6eDuTzg).
Aqui o texto que te falei. Pra resumir: Heinrich Kramer, um frei inquisidor com ideias absurdas foi expulso da igreja na Áustria, por causa de suas ideias misóginas, de perseguição às bruxas. Pra se vingar ele escreveu um livro em que contava como fazer os acusados confessarem bruxaria, sobre fortes torturas. O livro vendeu muito e foi usado por muita gnte maluca. A igreja depois de muito sangue derramado desmentiu toda maluquice de Kramer. O livro é o Malleus maleficarum – o martelo das feiticeiras. https://pt.1lib.sk/book/4936638/ba0db8/malleus-maleficarum-o-martelo-das-feiticeiras.html
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Tirado de Nexus: Uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à inteligência artificial por Yuval Noah Harari
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“Segundo o importante texto Canon Episcopi, do século x — que definia a doutrina eclesiástica medieval sobre a questão —, a bruxaria era basicamente ilusão, e a crença na realidade da bruxaria era uma superstição não cristã.68 A caça às bruxas na Europa foi um fenômeno moderno, mais do que medieval.”
“Em 1485, um frei e inquisidor dominicano chamado Heinrich Kramer se lançou a uma expedição de caça às bruxas em outra região alpina — o Tirol austríaco. Kramer era um ardoroso convertido à nova crença numa conspiração satânica global. Ao que parece, sofria de transtornos mentais, e suas acusações de bruxaria satânica vinham tingidas de raivosa misoginia e estranhas fixações sexuais. As autoridades eclesiásticas locais, encabeçadas pelo bispo de Brixen, foram céticas quanto às acusações de Kramer e ficaram alarmadas com suas atividades. Interromperam suas intervenções inquisitórias, liberaram os suspeitos que ele prendera e o expulsaram da área. 71 Kramer revidou por meio do prelo. Dois anos depois de sua expulsão, ele compilou e publicou o Malleus Maleficarum: O martelo das feiticeiras. Tratava-se de um manual de instruções para desmascarar e matar bruxas, no qual Kramer descrevia em detalhes a conspiração mundial e os meios pelos quais os cristãos honestos e sinceros podiam desmascarar e derrotar as bruxas. Ele recomendava em especial a utilização de métodos pavorosos de tortura a fim de arrancar a confissão das pessoas suspeitas de bruxaria, e era inflexível em sustentar que só a execução cabia como punição para os culpados.”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Malleus_Maleficarum